Sempre fui fascinado pelo tempo. Afinal, todo mundo sabe o que é o tempo, mas ninguém consegue defini-lo com precisão. Os mais sensíveis conseguem senti-lo. Os mais sábios, aproveita-lo. Para os mais velhos, o tempo é uma memória. Para os jovens, o futuro. A maioria das pessoas, porém, costuma dizer que não têm tempo pra nada. O que elas querem dizer, na verdade, é que não sabem administra-lo, pois o tempo é um bem comum a todos. O que nos resta é termos uma relação harmoniosa com ele.
Alguns meses atrás, por exemplo, fui ao cinema assistir "Alice Através do Espelho". Dentre todas as cenas marcantes do filme, uma delas destacou-se. (Atenção para spoiler leve). No filme, há um personagem chamado "Tempo". Conforme o nome sugere, ele é ? de fato ? a personificação do próprio chronos. Então, em determinado momento do longa-metragem, Alice lhe pergunta ingenuamente:
"Posso ter um minuto do seu tempo?".
Eis que o Tempo lhe responde sorrindo, de forma jocosa:
"Eu sou o próprio tempo. Se eu lhe der um minuto, estarei lhe dando um pedaço de mim".
A resposta deste personagem me instigou a uma reflexão profunda: quando doamos nosso tempo a alguém, estamos, na verdade, doando um pedaço de nós mesmos; estamos doando uma fatia da nossa vida... E não há nada mais bonito e valioso do que doar a nossa vida a alguém.
Seja ouvindo a amiga reclamar de seu relacionamento conturbado, seja ensinado seu sobrinho a jogar futebol, seja ajudando sua irmã mais nova com o dever de casa, ou até mesmo ouvindo as histórias da sua avó pela quinquagésima vez: você está doando um pedaço de você. E isso é mágico!
Nem sempre as pessoas querem presentes caros, festas e viagens. Muitas vezes, o que alguém mais precisa é que você a chame no bate-papo para conversar e perguntar como ela está; que vá a casa dela e diga: "hey, te trouxe um vinho e um abraço apertado"
.
Esses pequenos momentos que compartilhamos o nosso tão precioso e estimado tempo com alguém que amamos é que fazem a vida valer a pena. Porque, no fim das contas, quando nosso prazo de validade na terra estiver expirando, tudo que nos restará são memórias. E memórias nada mais são do que fragmentos de tempo.