A Lâmpada de Moser ou Lâmpada de Garrafa Pet foi uma das criações mais interessantes e criativas que vi nos últimos tempos. Ela é daquela categoria de coisas que quando você vê se pergunta: Por que não tiveram esta idéia antes?
Pois é, acredito que as coisas mais simples, às vezes, são as mais complexas justamente por que dependem de um olhar diferente sobre o cotidiano.
Esta criação, obra de um brasileiro chamado Alfredo Moser, espalhou-se pelo mundo e sua autoria foi, por algum tempo, erroneamente atribuída ao laboratório de design do M.I.T. (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
Por se tratar de uma tecnologia praticamente gratuita, achei fantásticas as perguntas de Tina Rosenberg, colunista do New York Times:
Junto com uma nova tecnologia vem o grande desafio e as perguntas: Como você constrói um mercado para uma tecnologia focada em pessoas que não tem dinheiro? Como você a leva para os lugares onde as pessoas necessitam dela? Como as pessoas pobres podem adquiri-la? Como esta tecnologia pode ser adotada em larga escala? Como você faz isto perdurar?
Esta é uma questão chave, pois quando falamos em trazer soluções para as pessoas geralmente pensamos na classe média, média alta, ou mesmo em pessoas mais simples mas que conseguem, com a labuta diária, pagar sua água e luz todo mês e ter em casa sempre as três refeições sagradas. Esquecemos, porém, de pessoas que, muitas vezes, não têm condições nem de adquirir o mínimo, como algumas populações do semi-árido brasileiro e africanos e asiáticos de certas regiões do planeta, que vivem em situação de miséria.
É neste sentimento que podemos ter noção do quanto é fantástica a invenção de Alfredo Moser e sua Lâmpada de Moser, ou Lâmpada de Garrafa PET como é popularmente conhecida.
O que é a Lâmpada de Moser ou Lâmpada de Garrafa Pet
A Lâmpada de Moser é tão somente uma garrafa transparente, cheia de água, que deixa a luz do dia passar pelo telhado e a espalha pelo ambiente. Diferente de uma clarabóia a garrafa PET consegue dispersar a luz de maneira a fazer a mesma função que uma lâmpada comum. Ela também é versátil pois pode ser instalada em diferentes tipos de telhado, além de ser praticamente de graça, o que não acontece com uma telha de vidro ou similar.
Para fazer sua própria lâmpada não é preciso muita coisa. Bastam apenas os seguintes itens abaixo:
- Uma garrafa PET transparente (branca) de 1 litro ou mais;
- Água;
- Água sanitária;
- Massa para vedar (massa plástica);
- Filme fotográfico usado, para proteger a tampa da garrafa (Opcional).
Para a instalação da lâmpada você precisará de algum tipo de ferramenta para cortar orifícios em formato circular nas telhas em que deseja colocar as garrafas. Para isto pode-se usar uma furadeira, serra, talhadeira ou qualquer ferramenta disponível que possa fazer isto.
Abaixo segue um vídeo explicativo com todo o processo:
Ela tem uma potência entre 40 e 60 watts, dependendo se o tempo está nublado ou ensolarado e do horário, chega a economizar até 30% da energia gasta em iluminação. A taxa só não é maior pois seu funcionamento, obviamente, só acontece durante o dia.
Como nasceu a idéia
A semente da invenção brotou em 2001 em função da necessidade, assim como ocorre com a maioria das invenções. Em uma época em que no Brasil a falta de energia elétrica era uma ameaça (como até hoje é) e que, inclusive, um plano de racionamento estava para ser implementado, o mecânico mineiro residente da cidade de Uberaba/MG, Alfredo Moser, imaginou de que maneira poderia driblar o problema.
Foi quando lembrou-se de uma conversa que teve com seu antigo chefe, que o havia ensinado uma forma de acender fogo usando apenas uma garrafa cheia de água. A garrafa agia como uma lente de aumento, como estas que as crianças usam para pôr fogo em papel usando a luz do sol.
A partir disto criar a Lâmpada de Garrafa PET foi questão de fazer e testar. E deu muito certo!
Uma revolução que se espalhou pelo mundo
E deu tão certo que os vizinhos e até comércios locais passaram a usar a invenção.
Ela, obviamente, parou no YouTube e daí para ganhar o mundo foi um piscar de olhos.
Mesmo durante o dia, uma casa pode ficar muito escura, principalmente em favelas, onde as janelas são raras por se tratar de moradias aglomeradas umas nas outras. Nestas condições muitas pessoas gastam uma grande parte de sua renda com energia elétrica ou mesmo com iluminação à base de querosene ou velas. O querosene é uma alternativa que disponibiliza muito pouca luz e traz, em contrapartida, problemas graves de saúde pelos gases expelidos de sua queima. Estimativas dizem que no mundo aproximadamente 2 milhões de pessoas morrem por ano em decorrência da poluição gerada dentro de suas casas, originadas principalmente deste tipo de iluminação além de ser, proporcionalmente, mais cara do que a iluminação elétrica.
Mesmo em residências que não são favelas podem existir pontos dentro de casa que, apesar do dia claro, são escuros. Aqui mesmo, onde escrevo este artigo, apesar de ser já dia claro, preciso de uma lâmpada acesa, o que não ocorreria se pudesse instalar uma Lâmpada Moser (em apartamentos realmente é bem complicado). É aí que vemos de onde vem os 30% de economia.
Neste contexto a Lâmpada de Garrafa PET chamou a atenção de inúmeras pessoas e ONGs pelo mundo como a My Shelter Foundation, que viram pelo YouTube a invenção e resolveram adotá-la. A idéia vingou em países como Filipinas e Quênia.
Abaixo segue um vídeo da Isang Litrong Liwanag A Liter of Light que pode dar uma maior noção de como a idéia se espalhou pelo mundo (em inglês).
A invenção também rendeu reportagem na CNN em espanhol (http://youtu.be/jlNi7p545WI).
No Brasil o Globo Repórter fez uma matéria bem interessante sobre a lâmpada. Existem também iniciativas como a da empresa Ampla, do Rio de Janeiro, que está utilizando a técnica para instalação em residências de baixa renda, a fim de reduzir o consumo de energia e baratear as contas no final do mês.
Abaixo segue um vídeo institucional da empresa
Conclusão
Este é um exemplo, em minha opinião, de como uma idéia simples pode ser revolucionária, muito longe da noção de revolução que podemos ter. Um novo smart phone ou o envio de uma sonda até Marte podem ser revolucionários, sem dúvidas, mas a resolução de um problema cotidiano, que afeta milhões de pessoas, em condições de miséria, e que pode mudar suas vidas para melhor, pode ser muito mais revolucionário!
Longe dos aparatos altamente tecnológicos e das patentes milionárias podemos sim viver num planeta melhor, desde que nossas idéias possam ser direcionadas para o que é bom para muitos, em detrimento do que é bom só para meia dúzia, em função de lucros.
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