Margaret Mee é uma daquelas pessoas autênticas, que vivem a vida em sua plenitude, desenvolvendo por meio de interesses e hábitos simples, ações significativas e transformadoras para todos nós.
Aos 47 anos, Margaret Ursula Mee mudou o rumo de sua vida. Foi quando realizou a sua primeira expedição à Amazônia. Apaixonou-se tão profundamente pela natureza que retornou mais 14 vezes, de 1956 a 1988.
Nascida na Inglaterra, em Cresham, em 22 de maio de 1909, sempre foi descrita como determinada e na juventude fez parte de lutas políticas, com ênfase na importância da expressão das mulheres.
Em 1947, cursou a Escola de Arte de St Martin, em Londres, e lecionou na mesma cidade.
Casada com seu segundo marido, em 1952 veio para São Paulo para cuidar de uma irmã doente e logo passou a pintar as flores e plantas da Mata Atlântica, ainda existentes na cidade. Quatro anos mais tarde interessou-se em realizar uma expedição pela Amazônia e ficou tão encantada pela exuberância do que viu, que mudou o rumo de sua vida: passou a desenhar as flores amazônicas, o que a tornou conhecida internacionalmente.
Em São Paulo, em 1958, lecionou no Instituto de Botânica da USP, mas decidiu fixar moradia no bairro de Santa Teresa no Rio de Janeiro.
Em suas expedições, não havia luxo, muitas vezes foi sozinha, contando com a própria determinação e coragem, e com a ajuda de índios e guias. Outras vezes contou com a companhia de amigos e amigas. Conheceu os rios Negro, Vaupés e Amazonas.
Gostava de desenhar e pintar em frente as plantas, no contato direto com a natureza. Suas pinturas são de uma sensibilidade incrível e deram origem a diversos livros publicados no Brasil e no exterior, e a um documentário (veja o trailer no final do artigo). Recentemente uma joalheria famosa lançou uma coleção inspirada nas pinturas da artista.
A botânica e artista também coletava espécies de plantas, que ajudaram a ampliar as amostras dos jardins do Rio de Janeiro, juntamente com o paisagista Burle Marx com quem fez parceria, contribuindo significativamente na criação do Jardim Botânico desta cidade.
Redescobriu plantas consideradas extintas e descobriu novas espécies batizadas com o seu nome.
Numa de suas expedições ficou horrorizada com a devastação da floresta e passou a defendê-la. Como no Brasil imperava a ditadura militar, enviava seus livros como presente às autoridades e na dedicatória mensagens de incentivo ao cuidado às florestas brasileiras. Em discursos em Londres, sempre inseria, de forma elegante, o tema da preservação das florestas.
Esta preocupação com a preservação do meio ambiente fez com que Margaret Mee transformasse as suas pinturas, não mais retratando apenas a planta ou flor, mas a fauna e flora ao seu entorno. Quando ela percebeu a possibilidade de extinção das plantas retratadas em seus desenhos, devido a destruição dos ecossistemas, criou uma coleção particular, denominada Coleção da Amazônia.
Achei especial a busca incansável de Margaret Mee por pintar uma planta em especial. Desde 1965, buscava pelo desabrochar de uma flor de uma espécie rara de cactus denominada Selenicereus witti (Cactaceae) ou Flor da Lua. Chegou a encontrar o cactus, algumas vezes, mas já sem flores. Não desistiu e continuou sua busca pelo desabrochar da flor da lua, flores brancas do cactus em questão, que desabrocham e morrem em uma única vez noite de lua cheia no ano. Realizou o seu sonho em 1988, aos 79 anos. Um casal de amigos patrocinaram e documentaram esse encontro raríssimo, já que ninguém acreditava que ela poderia conseguir, devido a idade e às condições difíceis da expedição.
Margaret disse ter se sentido enfeitiçada pela orla escura da floresta na espera pela abertura da primeira pétala até a flor desabrochar por completo e explodir para a vida.
Após a realização de seu sonho de pintar a flor da lua, Margaret viajou a Londres para garantir que sua Coleção da Amazônia ficasse segura, fato que ocorreu após a venda para o Jardim Botânico Real Kew, Inglaterra, e fundação da Margaret Mee Amazon Trust, que financia o intercâmbio entre botânicos e ilustradores brasileiros e ingleses na área de pesquisa.
Com seus objetivos conquistados e seus interesses encaminhados, em 1988, sua vida chegou ao fim. Quem diria, após as difíceis e perigosas 15 expedições à Amazônia, Margaret Mee faleceu num acidente de carro em Londres.
Refletimos, então, que Margaret cumpriu o seu legado até o fim, mas os frutos de seus trabalhos e conhecimento continuam se multiplicando até os dias de hoje e a beleza e importância de seu trabalho sempre será lembrado! Como em 1994, ano em que foi tema do enredo da Escola de Samba Beija Flor, no Rio de Janeiro, com a música "Margaret Mee a dama das bromélias".
Encerramos este texto com uma frase de Margaret:
Sei que minha morte não significará o fim do meu trabalho. Onde quer que eu esteja, tentarei influenciar aqueles que estão destruindo o planeta para que dêem à natureza uma chance de sobreviver.